30 março 2006

BELO CONSELHO

É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas.
Mas – de quê ? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez ! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embragai-vos sem cessar ! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Beaudelaire (em Pequenos Poemas em Prosa ou Le spleen de Paris – 1869 / trad: Aurélio Buarque de Holanda, texto tirado daqui)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Bom eu tentei com cerveja, vodca e vinho e só deu dor de cabeça.

30/3/06 16:23  

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